A longa história do macarrão


O macarrão cruzou oceanos e atravessou continentes até se tornar, depois do pão, um dos alimentos mais universais do planeta




Como pode um punhado de massa ter se tornado ingrediente de peso na mesa brasileira e também na venezuelana, na grega e na tunisiana, só para citar alguns dos países que mais consomem macarrão no mundo, depois da Itália? "Por ser um alimento simples, combina com carnes, verduras, queijos e todo tipo de molho", diz Rita Corsi, coordenadora do curso de Gastronomia das Faculdades Metropolitanas Unicas (FMU), em São Paulo. A explicação faz sentido quando entendemos que a combinação massa mais molho é fácil porque a base do macarrão é a mesma do alimento mais universal do planeta: o pão. Bastam água e farinha para fazer os dois. A diferença é que o pão fermenta e o macarrão não.

A massa mais antiga de que se tem notícia comprovada foi descoberta em 2005 por arqueólogos chineses. Eles encontraram em Lajia, na China, um fio de 50 centímetros com cerca de 4 mil anos. Assim, desvendou-se a idade do macarrão, essa delícia que ganhou fama mundial graças à criatividade gastronômica dos italianos e não a Marco Pólo, como aprendemos na escola. Em 1154, 100 anos antes do nascimento de Marco Polo, o geógrafo árabe Al-Idrisi concluiu a redação do Livro de Ruggero. No volume patrocinado pelo normando Ruggero II, que dominou e governou a Sicília, o árabe escreveu que em Trabia, perto da cidade italiana de Palermo, comia-se uma massa de farinha e água em forma de barbante.

Sopa oriental

Enquanto a massa italiana era comida com especiarias, em terras chinesas o macarrão era sopa. Os camponeses cozinhavam a massa com verduras e carne de porco, criando o prato mais importante e popular da alimentação chinesa até hoje, diz o professor de culinária japonesa Helio Takeda. Logo aportaria no Japão, lá ganhando o nome de ramen - lamen no Brasil. A massa também desembarcou na Tailândia, na Malásia e em outros países do Oriente.

A importância da massa para o Oriente foi tão grande que, nos anos 50, um visionário industrial japonês, Momofuku Ando, inventou o macarrão instantâneo. O lamen é pré-cozido e frito, por isso bastam 3 minutos para ficar pronto. A empresa de Ando, a Nissin Foods, líder no mercado, vende 10 bilhões de pacotes por ano, em mais de dez países. O segredo do sucesso? O macarrão instantâneo quebra um galho quando estamos com pressa ou sem paciência para cozinhar. Claro que não existe apenas sopa com macarrão no Oriente. Seria injusto não mencionar o yakissoba, massa salteada com legumes, carnes e frutos do mar.

A "culpa" é dos italianos

A massa também está presente em pratos como o alemão spatzle, um tipo de nhoque, e nas mesas ucranianas e russas, como o varenike, um raviolão recheado de batatas ou carne ou verduras, explica Marcelo Neri, professor de gastronomia. Apesar disso, as pastas italianas, com seus mais de 300 formatos e infindáveis molhos, são a pérola da sedução gastronômica mundial. A iguaria é tão irresistível que ganhou até data de comemoração mundial: 25 de outubro.

O fato é que esse alimento conquistou os paladares dos quatro cantos da Terra por uma imposição dos próprios italianos ao longo da história. Com a industrialização, a partir do século 17, em Nápoles, a massa se popularizou. Era comum ver nas esquinas da cidade barracas que vendiam macarrão com queijo ralado e pimenta-do-reino. E o hábito de preparar o macarrão em casa descende dos imigrantes italianos, que trouxeram na bagagem o desejo de preservar seus costumes onde estivessem.

Por isso, no Brasil e principalmente em São Paulo, que concentrou a maior parte dos imigrantes , quinta-feira e domingo são dias de macarrão. No domingo a família se reunia para comer junto. Faziam a massa, o molho, as berinjelas fritas e compravam frango, que era caro para o dia a dia, diz a professora Rita Corsi. Quanto à quinta-feira, como não se comia carne na Sexta-feira Santa, na quinta e na sexta o prato era macarrão.

Fonte:M De Mulher

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